Odeio Interrogatórios

  • 10
A louça suja permanece,
A parede marcada não cairá,
Parede de meu peito, que cortado está no chão
As cinzas não se espalharam, não desapareceram
Permanecerão intactas no desenho,
No desdenho de meu peito.
Na falta do fôlego só teu ar.
Demasiado e inegavelmente tarde,
Percebi que ninguém é minha vida além de mim.

Eu poderia ter comprado seus vestidos,
Te coberto no sono longo e frio,
Mas não o fiz e foi melhor:
A vida não me prende, nem me solta
Que ela me leve a algum lugar, mas não me assole,
Que não me faça perguntas e jamais será enganada.
Não com mentiras, mas sim com a incapacidade de demonstrar quem sou,
Pois não sei quem sou.

Não sei.
Nem descobrirei.

  • 2

O título não diz quase tudo, na verdade o título deste escrito nada diz. Porque mesmo que eu escrevesse mil palavras com mil significados diferentes, eu não poderia descrever nem passar o que estou sentindo agora. Estou intacta, estou tirando de dentro de mim um peso que não sei de onde veio, nem sei se vai ter fim.
Um pássaro se esvai por entre meus dedos, que por mais que não tenha perdido, deixei fugir, deixei sair de mim, deixei pela covardia de me ser.
Talvez porque como diz Clarice "ter nascido me estragou a saúde", talvez porque eu realmente não nasci para entender o que me acontece, o que é justo ou o que é pecado.
Eu não nego quem sou, não me exalto, pois o que tomou conta de mim, é nada mais do que um vazio profundo que por mais que eu tente preencher eu vou continuar com medo de perder.
Não é medo de ser feliz nem de arriscar, é que acostumei-me em ser só, de modo que não sei como se conserva quem mais amo. Eu sou tão acostumada a viver comigo mesmo que quando verdadeiramente tenho alguém do lado, tenho medo de perder. E esse medo é que me faz desistir, talvez por amar demais e não entender se posso ou não dar o que se quer de mim.
Eu sou só. Só de mim.

O Mentecapto

  • 2
O segredo, o ódio da paixão inacabada,
Faz-se de forte, mas no quarto em lágrimas desaba.
Ele já não sabe mais escrever a sua sina,
E em teus olhos brota o corpo penetrante.
Que em fogo ardente faz gelar os teus conselhos,
Calou a boca, o coração e a cabeça,
Por covardia ou por falta de coragem,
Não foi fiel quando trovou o que enseja.
Largue o mundo e ponha as cartas sobre a mesa.

Abra a boca, o coração e a cabeça.
Lave o rosto e dê dois passos indesejados,
Que intemporal idade não saber o que dizer,
Mas não é condenável não ter como fazer.
Dê a glória aos que pelo menos tentam,
Muitos acabaram e morreram por morrer.